Anterior: João está confuso (VII)
Capítulo 8
Ficar doente não é solução
A partir de então, João, que não consegue falar do que o aflige, fica sempre doente aos domingos. Sabe que, quando está doente, a mãe fica em casa. No primeiro domingo, tem uma crise de fígado. Todos pensam que comeu chocolates a mais no Natal e que um dia em casa o porá bom. No segundo domingo, tem dores de ouvidos. Chamam o médico, que confirma que João tem uma otite e receita-lhe um antibiótico. O tio Tiago vem vê-lo, muito aborrecido.
— Que maçada! Ficas sempre doente aos domingos.
— É menos aborrecido do que faltar às aulas — contrapõe a mãe de João.
No terceiro domingo, a otite, que ficara curada durante a semana, reaparece. O médico está surpreendido.
— É estranho. A acção dos antibióticos costuma durar mais tempo.
Decide prevenir João:
— Se voltares a ter dores de ouvidos, teremos de fazer umas radiografias no hospital, para ver se tens alguma coisa mais grave.
João pergunta-se se uma radiografia aos ouvidos mostrara o que lhe vai na cabeça. “Talvez eles possam ver os meus pensamentos”, aflige-se. João não quer que lhe vejam os pensamentos. Quer guardá-los para si, porque gosta do tio Tiago, apesar de ter ouvido palavras que o incomodaram.
No quarto domingo, dói-lhe a barriga, mas não diz nada. Quando o tio chega e diz que vão ao teatro festejar a cura, João tenta mostrar boa cara.
— Vais ver que vais gostar — anima-o o tio. — É um espectáculo com música, canções e muitas peripécias.
No táxi que os leva ao teatro, João evita sentar-se perto do tio, ao invés do que fazia dantes.
— Mas, o que se passa contigo? Dir-se-ia que tens medo de mim — comenta Tiago, inquieto por ver o sobrinho triste e preocupado.
Então, João dá-se conta de que tem medo da sua própria imaginação e decide falar com o tio, no qual, no fundo, confia.
Segue: Uma conversa ao lanche (IX)
Deixe uma Resposta